Está fora de Portugal há quatro anos e não deve mudar de cidade a seguir às eleições europeias. Aos 27 anos, dirige a juventude do Partido Popular Europeu e posiciona-se no centro-direita.
A abordagem foi feita pessoalmente por Rui Rio, num domingo. Durante a Universidade da Europa da Juventude Social Democrata, que decorreu na Figueira da Foz entre os dias 8 e 10 de Março, o líder do PSD endereçou o convite a Lídia Pereira, precisamente um dia antes de anunciar na rede social Twitter a escolha da jovem de 27 anos para ocupar um lugar de destaque na lista para o Parlamento Europeu: o segundo, a seguir ao experiente e repetente Paulo Rangel.
Antes disso, conta, não tinha havido qualquer contacto directo prévio. No entanto, acabou por não ficar surpreendida, conta Lídia Pereira ao PÚBLICO. Tanto a juventude laranja como a distrital de Coimbra do PSD já a tinham proposto para integrar a lista às europeias. A grande surpresa foi o lugar, imediatamente a seguir ao cabeça de lista. “Acho que é francamente inédito, para a história do partido e da JSD, dada a minha relativa tenra idade”.
Apesar de ser praticamente desconhecida na política interna portuguesa, desde finais de 2018 que Lídia Pereira começou a ganhar alguma projecção mediática. A chegada à presidência da Juventude Popular Europeia (YEPP), a primeira mulher a desempenhar o cargo, assim o impôs. Rejeita o argumento da inexperiência, fala antes de um percurso que não será “típico, no contexto da política nacional” (ver entrevista). Um percurso que começou aos 20 anos, com a entrada na Juventude Social Democrata, chegando a vice-presidente da distrital da jota de Coimbra, de onde é natural. Dirigiu o gabinete de relações internacionais da JSD no tempo de Cristovão Ribeiro Simão e há quatro anos que está fora do país.
Depois da licenciatura em economia na Universidade de Coimbra, em 2014, foi para o Colégio Europeu, na Bélgica, tirar o mestrado em Estudos Europeus, de onde saiu no ano seguinte para um estágio no Banco Europeu de Investimento. Aos 27 anos, Lídia Pereira não deverá mudar de cidade. Vive em Bruxelas desde 2017, onde trabalha em consultoria para a Deloitte, depois de ter passado por outra grande empresa do sector, a Ernst & Young, e lugar cimeiro na lista faz com que esteja garantida a eleição para o Parlamento Europeu (há cinco anos, a coligação Portugal à Frente elegeu sete deputados, dos quais seis foram para o PSD e um para o CDS).
Quando a questão é sobre a relação entre as grandes empresas de auditoria e consultoria e os cargos de decisão política em Bruxelas, Lídia Pereira diz que sempre separou a actividade política da profissional. “Acho até que as empresas por onde tenho passado têm servido como uma grande escola para mim”, afirma, acrescentando que é “importante trazer alguns ensinamentos das empresas e da nossa vivência em sociedade para a política”.
Mais pragmatismo que ideologia
Ideologicamente, Lídia Pereira assume ao PÚBLICO que se posiciona mais num quadro de “centro-direita”. No entanto, acrescenta logo de seguida que, dependendo das matérias, pode ser “mais liberal ou mais conservadora ou mesmo de centro-esquerda”. A própria encarrega-se de esclarecer esta aparente confusão: “A forma como eu vejo a política é mais pragmática e menos ideológica”. Por exemplo, não questiona a necessidade de haver um Estado social, mas discute o peso do Estado. Já em matéria de costumes, as posições não são totalmente conservadoras. “Sou a favor do casamento homossexual, mas já tenho algumas reservas em assuntos como o aborto ou a eutanásia”, refere.
A resposta sobre referências políticas não surpreende. “A principal é Francisco Sá Carneiro” pelo “legado inquestionável” que deixa e que “continua a ser inspirador”. Se o âmbito da questão for internacional, o nome que surge é Angela Merkel. Para Lídia Pereira, a chanceler alemã “é das poucas estadistas europeias”, mesmo que haja pontos em que não concorde com a sua actuação. “Teve um trabalho muito difícil com esta questão dos refugiados e da própria gestão da crise financeira”, afirma. Mas em Portugal, Sá Carneiro não é o único nome. De Mota Pinto a Calvão da Silva – “figuras da minha cidade e que tiveram também importância” no partido –, a número dois da lista do PSD às europeias vai referindo as influências que teve, sem esquecer Rui Rio. “A rectidão do actual líder do PSD é uma forma de estar na política na qual me revejo”, acrescenta.
Se a inclusão na lista do PSD significa maior responsabilidade, Lídia Pereira entende que é “um grande desafio dar a cara pela juventude”, quando, entre os “grandes adversários”, estão a “abstenção e a abstenção jovem”. Entre as suas bandeiras conta o acesso ao Erasmus para todos, o futuro da segurança social, as questões da digitalização, da automação e do seu impacto no mercado de trabalho. “Problemas que dizem muito à juventude, que eu quero trazer para o debate”, diz, e que “faz sentido serem abordados na União Europeia, num quadro de globalização avançado”.
Olhando para a Europa, a família do PSD tem um membro problemático. O Fidesz, do primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban, acentuou a deriva eurocéptica nos últimos meses, ao ponto de vários membros do Partido Popular Europeu terem pedido já o seu afastamento do grupo.
Em Novembro, quando foi eleita para a liderança do YEPP, Lídia Pereira dizia ao PÚBLICO que havia “margem para o diálogo” e que não tomaria nenhuma decisão em relação ao Fidelitas (juventude do Fidesz), enquanto não houvesse uma “posição mais musculada” do PPE. Agora diz que “foram dadas várias oportunidade” ao partido de Orbán “para se retratar e pensar duas vezes no caminho que quer seguir”. E prossegue: “Se não há indicação de que quer comungar o mesmo espírito do PPE, esta discussão [de expulsão do Fidesz] faz todo o sentido”.
Fonte: Público