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Há muito lá fora, mas o melhor está cá dentro!

Estive recentemente nos Açores, em São Miguel. Não foi a minha primeira visita à ilha, mas sempre que lá volto encontro um recanto escondido, uma paisagem, algo novo por descobrir.

Penso que há, certamente, uma coisa consensual entre todos os que visitam os Açores: é tudo tão bonito e natural que nos corta o fôlego. E a paz, que só o assobio do vento interrompe? As colinas verdes que recortam o azul do céu e do mar ou a luz que se esconde e reaparece entre uma ou outra nuvem, a dança do sol e da chuva que, em 24 horas, têm o condão de fazer várias piruetas. A beleza da lagoa do Fogo ou das 7 Cidades são paragens obrigatórias. A visita às Furnas e ao Parque Terra Nostra convida a um mergulho na piscina natural de águas férreas ou uma pausa na Poça da Dona Beija. Parece não haver um sítio que não valha a pena. Mas porque escrevo tudo isto? Acompanhe-me e já respondo à pergunta.

Na gastronomia, perdemo-nos entre as lapas grelhadas e o arroz de lapas, os filetes de abrótea ou o maravilhoso polvo regional. O cozido das Furnas, esse, é especial com um sabor tão característico que (infelizmente!) não agrada a todos. Há ainda os bolos lêvedos que fazem parelha com o melhor queijo fresco que conheço e, claro, o doce de amora a completar. Ou os queijos de S. Jorge! E há, por certo, tantas outras coisas boas e únicas que cá, no continente, não conhecemos tão bem, mas às quais devíamos dar mais atenção. As bolachas de chocolate “mulatas”, a cerveja especial “Melo Abreu”, a “Kima”, a “laranjada”…e tanto por aí fora. Da Ferraria ao Nordeste, tudo é uma explosão de sabores e cores. Tudo made in Açores. E tudo o que é made in Açores é português.

Escrevi tudo isto porque dei por mim a pensar que temos muitas razões para nos orgulharmos do nosso país e nem sempre demonstramos o orgulho como devíamos. Valorizamo-nos pouco. Valorizamos pouco as nossas gentes, as nossas paisagens, a nossa cultura e a nossa identidade. Valorizamos e consumimos pouco o que é nosso, os produtos das nossas regiões. À exceção da nossa cozinha, que ousadamente dizemos ser a melhor do Mundo, olhamos pouco para dentro, embevecidos com o que se faz lá fora. Somos um país com mais de 900 anos de história, que vive e convive tranquilamente com a sua nacionalidade. Por certo bairrista, mas sem regionalismos de fundo, como acontece em Espanha, no leste europeu ou nos Balcãs.

Temos, pois, mais do que motivos para nos valorizar e, claro, orgulhar. Da minha parte, continuo com pelo menos oito outras grandes razões para visitar os Açores…

Fonte: JN