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Feito nas suas Costas

Ponto de partida: o Governo do PS entregou em Bruxelas um documento com as reformas estruturais que terá de implementar até 2026. Estas reformas são condição absoluta para que Bruxelas disponibilize as verbas acordadas.

Problema: decidiu só tornar pública a parte que lhe interessa, uma “síntese” adocicada e que esconde o principal, porque as reformas não serão do agrado do Bloco de Esquerda e do PCP.

Questão: porque esconde o Governo o que negoceia e acorda com Bruxelas?

O mesmo António Costa que defendeu esta semana “transparência” e “escrutínio” e que diz querer combater a corrupção é também o António Costa que aprovou o aumento do limite dos ajustes diretos para 750 mil euros e que o Tribunal de Contas disse que era “suscetível de contribuir para o crescimento de práticas ilícitas de conluio, cartelização e até mesmo de corrupção na contratação pública”. Este António Costa é também o mesmo que agora age nas costas da Assembleia da República e dos portugueses.

O documento tornado público esconde, não só a lista das reformas que Portugal terá de fazer para receber os mais de €16 mil milhões, mas também o seu calendário!

O Governo tem de dar explicações aos portugueses. Exige-se saber: por que razão ocultou esta informação; o que é que acordou com Bruxelas nas nossas costas.

Os compromissos do Governo são os compromissos de um país. O Governo tem a obrigação de ser transparente e não mentir aos portugueses.

Não há razão para que os compromissos assumidos com a Comissão Europeia e detalhados na versão entregue a Bruxelas sejam ocultados e não estejam presentes na versão publicada e conhecida dos cidadãos.

Dito muito claramente: o Governo optou por fazer a propaganda das obras e dos apoios públicos e por esconder dos portugueses os sacrifícios e as reformas.

António Costa, como de resto tem feito frequentemente, não fala a verdade aos portugueses e opta por ter dois documentos, um privado com a Comissão, em que assume as reformas que terá de fazer para receber as verbas, e um público, em que esconde deliberadamente aos portugueses as reformas politicamente mais difíceis.

No fundo, António Costa é como aquelas pessoas que vamos encontrando na vida que só aparecem nos momentos bons, que nos dão pancadinhas nas costas e dizem que sempre acreditaram em nós quando as coisas correm bem, mas que desaparecem e se escondem quando precisamos de apoio e segurança.

O problema de António Costa é que as ações e as suas escolhas falam mais alto (bem mais alto!) que as suas palavras.

Fonte: JN