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Falhar a planear é planear para falhar

Estabilidade, poder saber com o que contar, é seguramente um dos requisitos para a retoma da atividade económica.

Depois de um ano de avanços e recuos, entre confinamentos e desconfinamentos, os portugueses e as empresas precisam, e é mais que chegado o tempo, que o Governo apresente um plano para o desconfinamento, com metas, indicadores e datas e uma gestão flexível e de avaliação periódica.

Em vez disso, querer culpar os portugueses pelos piores números do Mundo equivale a dizer que ou os portugueses são o povo que pior se comporta ou o povo que mais limitações cognitivas tem. E sabemos que nem um nem outro são verdade. É fundamental abandonar operações de propaganda e apresentar um caminho com seriedade e clareza.

Mas por que razão é tão importante a existência de um plano estruturado de desconfinamento, com datas, indicadores e por setor de atividade? Por exemplo, no que diz respeito às escolas, se fecham ou abrem tem implicações na gestão familiar e profissional de quem trabalha e tem filhos a cargo.

Saber quando vão abrir é importante, não só para os pais adaptarem as suas rotinas, mas também para que os docentes possam preparar aulas em ambiente virtual ou presencial. Havendo um consenso generalizado sobre a importância da abertura das escolas para reduzir os efeitos negativos da suspensão das aulas presenciais, devemos planear com base na opinião de especialistas de saúde pública.

O mesmo se aplica às empresas em setores particularmente afetados, como a restauração, ou a cultura, que precisam de planear a sua vida, pagar salários e gerir relações com fornecedores. Só um desconhecimento profundo das dificuldades de gerir uma pequena empresa ou um negócio como empresário em nome individual pode justificar esta situação.

Um pouco por toda a Europa, foram já divulgados e comunicados os planos de desconfinamento. No Reino Unido, por exemplo, o plano de desconfinamento prevê quatro fases, com possibilidade de abertura diferenciada por regiões, como defende o PSD, bem como cinco datas concretas que oferecem previsibilidade ao relançamento dos vários setores económicos. A Alemanha, Itália, Bélgica e Espanha são outros exemplos de países que já apresentaram os seus planos de desconfinamento.

O país arrasta-se sem planeamento. Mas não podemos continuar nesta navegação à vista. É urgente um plano, criterioso, inteligível e claro, que não seja apresentado pelo primeiro-ministro num dia e desmentido no outro. A sua ausência equivale a um país à deriva.

Fonte: JN